Arquitetura Atual
March 3rd, 2025

O Brutalismo e "The Brutalist": Uma Janela para a Arquitetura do Século XX

Nos últimos meses, o filme The Brutalist tem chamado a atenção não apenas dos amantes de cinema, mas também de quem se interessa por arquitetura. Dirigido por Brady Corbet e estrelado por Adrien Brody, este épico de mais de três horas e meia mergulha na vida de László Tóth, um arquiteto fictício húngaro que sobrevive ao Holocausto e busca reconstruir sua carreira nos Estados Unidos pós-guerra. A obra, que já conquistou prêmios como o Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático em 2025, não é apenas uma narrativa sobre resiliência e ambição – ela também coloca em destaque um dos estilos arquitetônicos mais polarizantes da história: o brutalismo.

The Brutalist

Mas o que é exatamente o brutalismo? E por que esse estilo, tantas vezes associado a construções "feias" ou "frias", está voltando ao centro das conversas com The Brutalist? Vamos explorar isso juntos.

O que é o Brutalismo?


O brutalismo surgiu na década de 1950, principalmente no Reino Unido, como uma resposta às necessidades de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial. O termo vem do francês béton brut (concreto bruto), uma expressão usada pelo arquiteto suíço-francês Le Corbusier para descrever o uso de concreto exposto, sem acabamentos decorativos. Pioneiros como Alison e Peter Smithson, no Reino Unido, abraçaram essa estética crua, valorizando a honestidade dos materiais e a funcionalidade acima da ornamentação.

Caracterizado por formas geométricas ousadas, superfícies ásperas e uma paleta monocromática, o brutalismo foi mais do que um estilo – foi uma filosofia. Em um mundo devastado pela guerra, o concreto barato e abundante permitiu a construção rápida de moradias populares, universidades e edifícios públicos. Para muitos, essas estruturas representavam igualdade e progresso; para outros, tornaram-se símbolos de frieza e alienação urbana.

"The Brutalist" e a Arquitetura como Metáfora

No filme, László Tóth é um arquiteto treinado na Bauhaus que chega à América com o sonho de deixar sua marca. Sua grande obra, o Instituto Van Buren, é uma estrutura monumental de concreto que reflete tanto seu talento visionário quanto os ecos de seu passado traumático. A escolha do brutalismo como pano de fundo não é acidental: o estilo, praticado por muitos arquitetos imigrantes como Marcel Breuer (uma inspiração clara para Tóth), carrega uma dualidade. É ao mesmo tempo um grito de inovação e um lembrete das cicatrizes do século XX.

O que torna The Brutalist fascinante é como ele usa a arquitetura para contar uma história humana. O Instituto, com suas linhas duras e sua presença imponente, não é apenas um edifício – é um reflexo da luta de Tóth contra a adversidade, da tensão entre arte e burocracia, e da busca por um futuro que deixe o passado para trás. A produção do filme, liderada pela designer Judy Becker, criou um edifício fictício que parece real o suficiente para ser construído, inspirando-se em nomes como Breuer, Louis Kahn e Tadao Ando.

Por que o Brutalismo Divide Opiniões?


Apesar do sucesso de The Brutalist entre críticos de cinema, o filme gerou debates acalorados entre arquitetos e historiadores. Alguns elogiam a forma como ele captura o espírito do brutalismo – sua força bruta e sua poesia escondida. Outros, porém, criticam-no por perpetuar clichês, como o arquiteto genial solitário ou uma visão romantizada de um estilo que, na vida real, muitas vezes foi mal compreendido ou mal executado.

Na verdade, o brutalismo sempre foi controverso. Amado por arquitetos por sua honestidade estrutural, ele foi odiado por parte do público que o associava a conjuntos habitacionais degradados ou a paisagens urbanas oppressivas. Hoje, no entanto, assistimos a uma redescoberta do estilo. Edifícios como o Barbican Centre, em Londres, ou o SESC Pompéia, em São Paulo, são celebrados como ícones, enquanto outros enfrentam demolição. Talvez The Brutalist chegue em um momento perfeito para reacender essa discussão.

O Legado e o Futuro


Se você ainda não assistiu ao filme, recomendo que o faça com olhos atentos aos detalhes arquitetônicos – desde os esboços de Tóth até as cenas finais no Instituto. Mais do que um drama, The Brutalist é uma carta de amor (e às vezes de crítica) à arquitetura como expressão de identidade e resistência. Ele nos lembra que o brutalismo, com toda a sua aspereza, tem uma história para contar – uma história que ressoa em um mundo ainda dividido sobre como lidar com o passado e construir o futuro.

E você, o que acha do brutalismo? É um estilo que te inspira ou te incomoda? Deixe seu comentário e vamos continuar essa conversa sobre como a arquitetura molda nossas vidas – e nossas telas.

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